O Governo anunciou a criação de um programa nacional de rastreio do cancro oral, tumor que está a aumentar em Portugal e que tem elevada taxa de mortalidade, devido sobretudo à falta de detecção precoce.
O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), Orlando Monteiro, revelou à Lusa que o cancro oral está a aumentar, principalmente nas mulheres e nos jovens, devido ao aumento do consumo de álcool e tabaco. No entanto, 25 por cento destes cancros verificam-se em pessoas que não fumam nem bebem.
Segundo Orlando Monteiro, é fundamental o rastreio para detectar precocemente este tipo de cancro, um dos mais fáceis de detectar e curar, se diagnosticado em fase inicial.
Questionado pela Lusa, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Leal da Costa, mostrou-se preocupado e adiantou que o Governo está a estudar soluções.
O governante confirmou haver uma proposta da OMD e assegurou que vai "trabalhar com a Direção-Geral da Saúde (DGS) para desenhar um programa de rastreio nacional e encontrar maneira de o financiar".
"Vamos implementar e manter junto dos médicos dentistas - e é um programa que depende da DGS - uma maior capacidade e um programa organizado de rastreio de cancro oral", afirmou Leal da Costa.
Para o bastonário, o rastreio é uma medida fundamental o rastreio para detetar precocemente este tipo de cancro, um dos mais fáceis de detectar e curar, se diagnosticado em fase inicial.
"Mas, paradoxalmente, 50% das pessoas com cancro oral morrem e a taxa de sobrevida é muito baixa, com morte ao fim de cinco anos", disse, considerando ser uma taxa de mortalidade muito elevada para o tipo de cancro que é.
O problema é que o rastreio é feito normalmente em clínicas dentárias, porque o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não tem resposta, e as pessoas vão cada vez menos ao dentista por dificuldades financeiras, um cenário que tende a agravar-se mais ainda devido à crise, explicou.
"Nos últimos dois anos a percepção que temos é de que a redução do número de pessoas em consultas é grande, só aparecem em situações de mais urgência, com muita dor", afirmou.
Por isso, defende uma estratégia que envolva o Governo e sugeriu a integração deste rastreio e realização de biopsia, quando indicado, no Programa Cheque Dentista, "pelo menos no grupo mais vulnerável, que é o das pessoas com mais de 40 anos, fumadoras e consumidoras de álcool".
Por seu lado, na opinião do secretário de Estado, é necessário que os médicos em geral e a população estejam alertados "para o despiste de lesões aparentemente inócuas que eventualmente poderão corresponder a uma lesão pré-cancerosa que possa ser tratada, e é preferível tratar essas lesões em fase pré-cancerosa do que em fase de cancro invasivo".
A mesma preocupação foi manifestada pelo bastonário que sublinhou o papel dos médicos dos cuidados de saúde primários junto das populações e que nunca, ou raramente, fazem este tipo de rastreio, pesquisando a boca dos seus doentes.
Por isso, defende a necessidade de sensibilizar os médicos para esta prática e alertar também a população para a importância de fazerem o auto-exame.
"Os sinais de alerta, que podem ser detectados com um espelho e uma boa luz, são manchas ou lesões na boca que não desaparecem, e dificuldade persistente em mastigar ou engolir", explicou.
Fernando Leal da Costa adiantou ainda que, em termos de prevenção, uma das coisas que o Governo irá fazer "é tornar o tabagismo um problema menos importante em Portugal".
"Há uma relação directa entre o tabaco e o cancro oral, e o que puder ser feito, nós faremos, para minimizar o tabagismo em Portugal continuará para a diminuição do cancro oral", afirmou.
O bastonário dos dentistas alertou ainda para a necessidade da falta de dados estatísticos em Portugal sobre este tipo de cancro, revelando ser "uma das poucas situações neoplásicas não avaliadas".
Os médicos reportam-se normalmente, para estes cancros, aos dados internacionais, pois em Portugal só existem os registos dos institutos de oncologia (embora muitos casos passem por outras instituições de saúde).
Os mais recentes datam de 2001 e já apontavam para um aumento da incidência, principalmente na região do sul do país e em pessoas com hábitos de alcoolismo e tabagismo, maus cuidados de higiene oral e dentária, e baixo poder económico. À data, o cancro oral matava 300 pessoas por ano.
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