Portugal tem maior prevalência de doenças mentais e depressões graves do que os países vizinhos latinos, disse hoje à Lusa o psiquiatra Álvaro de Carvalho, citando dados preliminares do primeiro estudo internacional sobre o tema.
Segundo o psiquiatra, que lidera o plano de prevenção de depressões e suicídios, integrado no Plano Nacional de Saúde Mental, o estudo mostra que Portugal é um dos países com maior número de depressões.
«Enquanto a Espanha e a França têm índices de prevalência de doença mental entre os 8 e os 9,2 por cento, nós temos cerca de 23 por cento», afirmou, acrescentando que «a prevalência de depressões em termos internacionais ronda os 4 por cento, mas em Portugal chega aos 7 por cento».
Para Álvaro de Carvalho, «isto mostra que existe um problema sério de depressão, que tem que ser estudado, até para se perceber como é que os índices são tão altos quando a toma de antidepressivos é tão elevada».
Por outro lado, adiantou o responsável, «a evidência científica aponta para uma tendência que não pode deixar de chamar a atenção da sociedade em geral e dos políticos em particular: dados internacionais mostram existir uma correlação directa entre o aumento da prevalência de doenças mentais e o grau de desigualdades em termos sociais».
De acordo com o coordenador deste plano nacional, Portugal tem um nível alto de desigualdades sociais, a par de países como os Estados Unidos ou a Nova Zelândia.
«Estes índices tão elevados medem situações como a gravidez na adolescência - em que somos campeões a par do Reino Unido -, problemas de álcool, de obesidade ou de mobilidade social e desemprego», disse.
Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o 'Impacto da crise económica na saúde mental' na Europa concluiu que, em geral, as recessões económicas em países com o grau de desenvolvimento de Portugal não têm impacto ou reduzem mesmo as taxas de mortalidade, nomeadamente por acidentes rodoviários, já que as pessoas usam menos os carros.
No entanto, a análise realizada na União Europeia mostrou que os problemas económicos nos países com menor riqueza aumentaram a mortalidade, sobretudo devido a suicídios e outras causas violentas e problemas de alcoolismo.
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