"O mais antigo jornal que se tem notícia foi o Acta Diurna. O mesmo surgiu por volta de 59 a.C. a partir do desejo de Júlio César de informar a população sobre factos sociais e políticos ocorridos no império - como campanhas militares, julgamentos e execuções."

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Família de português torturada até à morte

A família Viana, originária de Famalicão, não teve tempo de chamar a segurança privada, a polícia ou vizinhos, que, em Walkerville, vivem a 500 metros, em enormes talhões típicos de uma zona rural de Joanesburgo. Um dos assaltantes que no sábado invadiram a casa do português António, da mulher Giraldine e do filho Amaro, de 13 anos, é filho da empregada doméstica do casal. Já está preso, por, com os dois cúmplices, a monte, terem torturado, violado e executado as três vítimas a sangue-frio.

Tempo não era problema, ninguém acudiria aos gritos das vítimas. "Não o aconselho a entrar. O que vimos nesta casa hoje é indescritível, próprio de um filme de terror. Até nós, que fazemos disto profissão, estamos em choque", confessou uma das mulheres que ontem limparam a cena do crime, ao serviço de uma empresa especializada.

Quem esteve no interior descreve "cenas de tortura visíveis em dez divisões - fáceis de adivinhar pelos vestígios deixados pelos assassinos". Amaro, de 13 anos, estava na banheira, mãos atadas atrás das costas. Foi abatido a tiro na cabeça, depois de mergulhado em água a ferver.

A mãe, Giraldine, estava no quarto do casal, mãos atadas, bala na cabeça e sinais claros de violação. Tinha vidros no interior do corpo. António, dono de uma empresa de ferramentas, foi encontrado na sala de estar, mãos atadas e tiro na nuca.

A polícia chegou à casa, domingo, para informar o português de que tinha encontrado o seu automóvel no bairro de lata de Orange Farm. Foi então que os agentes se depararam com a cena dantesca. "Um trabalho feito por dentro que nem uma patrulha policial no portão da propriedade poderia ter evitado", disse o vereador Malcolm Mack, que representa Walkerville na câmara local.

JARDINEIRO É O PRINCIPAL SUSPEITO E POLÍCIA PROCURA DOIS CÚMPLICES

O capitão Shado Mashobane, da polícia, diz que a corporação "não deixará pedra sobre pedra" na investigação do triplo homicídio da família Viana. "Detivemos na segunda-feira um suspeito e temos provas suficientes para o acusar formalmente de três homicídios, um crime de violação, roubo de viatura e furto de propriedade privada. Os outros dois que sabemos terem participado activamente nesta acção serão capturados", afirmou o oficial. O detido, de 20 anos, trabalhava nos vastos jardins da residência do empresário, além de ser filho da empregada doméstica.

DISCURSO DIRECTO

"CHOQUE COM A VIOLÊNCIA", Padre Carlos Gabriel, há 15 anos na África do Sul

Correio da Manhã - Como reagiram os portugueses a este crime?

Padre Carlos Gabriel - Ficaram chocados com a violência. Não conhecia esta família, mas sei que eram pessoas de classe média que viviam do trabalho. Ninguém merece isto.

- Como é vista a comunidade portuguesa no país?

- É vista com respeito, como trabalhadora, composta por pessoas honestas que vivem para a família. A comunidade é um pouco fechada, pois é um país violento. Não se é livre como na Europa.

- Continua a ser um país muito violento.

- Sim. O crime desceu imenso, mesmo entre os portugueses, mas este crime dá para ver que há muito a fazer. Há um mês foi morto um outro português num assalto.

- Que pode ainda ser feito?

- O presidente deu mais poder às polícias mas parece não ser suficiente. Tem de haver mais patrulhamento e visibilidade.

"ESTE CRIME ENCHE-NOS DE HORROR"

Walkerville fica a vinte quilómetros do centro de Joanesburgo, mas nem por isso deixa de ser uma área de sabor rural. Apesar de viverem a distâncias consideráveis uns dos outros, os habitantes sofrem em uníssono pela família Viana. Na noite de ontem, mais de 300 residentes reuniram-se num clube da zona para discutir os homicídios de António e Giraldine, bem como do filho Amaro, homenagear a família e estudar planos de acção para a segurança da área.

Os vizinhos das vítimas afinaram planos, já em curso, para reforçar as estruturas da comunidade. A polícia comunitária, que tem conseguido reduzir a criminalidade com recurso a patrulhas de voluntários, ligadas às autoridades, que contribuem com a doação de equipamentos, vai ser reforçada.

"Este crime apanhou todos de surpresa e encheu-nos de horror, mas temos consciência de que a união faz a força e que, em vez de protestar e gritar contra o Estado, compete-nos também a nós, cidadãos, olhar uns pelos outros, conhecer os vizinhos e colaborar com as autoridades", disse Ivan Parkes, membro do comité de apoio a vítimas da criminalidade da esquadra de Vereeniging, o comando no qual cai Walkerville. A família Viana é recordada como estável, cordial, com muitos amigos na zona.

PADRE AJUDA COMUNIDADE PORTUGUESA

O padre Carlos Gabriel, natural de Vila de Rei, com 30 anos de sacerdócio, 28 dos quais em África - está há 15 na África do Sul -, reside no bairro de Benoni, Joanesburgo, e é um elo de ligação entre os milhares de portugueses que residem no país. Apela a mais segurança.

POLÍCIA CONTINUA SEM ESCLARECER OS MOTIVOS DO CRIME VIOLENTO

Está ainda por clarificar o móbil do triplo homicídio. Segundo fontes ligadas à investigação, os assassinos deixaram na residência bens como computadores e televisões. Mas recolheram outros objectos das vítimas e puseram-se em fuga numa viatura da família, depois abandonada num local visível, no bairro de lata de Orange Farm, na zona do Soweto.

Residentes da zona especulam, com base nos padrões da criminalidade sul-africana, que os assaltantes poderiam estar sob o efeito de drogas, de grandes quantidades de álcool ou de ambos, quando infligiram atos de tortura a António Viana, à sua mulher e ao seu filho. "Mesmo que tenha sido um acto de vingança, ajuste de contas, não se compreende. Especialmente estando uma mulher e uma criança entre as vítimas. "Que apodreçam na prisão até morrer", desabafou um vizinho.

400 HOMICÍDIOS DESDE 1994

Segundo dados oficiais, desde 1994 foram assassinados cerca de 400 portugueses e luso-descendentes na África do Sul. Segundo dados do consulado, desde 2005 terão sido meia centena as vítimas mortais.

ABASTADOS E COM SUCESSO

Os portugueses são umas das maiores comunidades estrangeiras no país e são vistos como pessoas abastadas, com sucesso nos negócios, em especial na agricultura e no comércio a retalho, o que os torna um alvo dos criminosos.

(Fonte)


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