"O mais antigo jornal que se tem notícia foi o Acta Diurna. O mesmo surgiu por volta de 59 a.C. a partir do desejo de Júlio César de informar a população sobre factos sociais e políticos ocorridos no império - como campanhas militares, julgamentos e execuções."

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Jon Ronson. “Há mais psicopatas no topo do mundo empresarial do que na base”

Simpático e um tanto inquieto. O tipo de pessoa que está constantemente a mexer em algo – neste caso, uma garrafa de água. Jon Ronson, 44 anos, não é o tipo de pessoa que imaginamos quando pensamos em jornalismo de investigação, muito menos do género perigoso, ligado a organizações estranhas ou pessoas com perturbações mentais.

É este senhor, de cabelo de ruivo espetado e óculos redondos de massa o autor de “O Teste do Psicopata”. O livro exigiu dois anos de trabalho com entrevistas a psicólogos, psiquiatras, cientologistas, mas também presidiários, homens de negócios e Robert Hare, o homem que criou a lista de itens que define um psicopata e que acompanha toda a história.

Para trás ficaram outros êxitos, como “Os Homens Que Matam Cabras Só com o Olhar”, uma investigação de Ronson a uma remota base militar com homens que acreditam na utilização de capacidades paranormais, o livro que acabou por ser adaptado ao cinema com George Clooney.

Como se aterra no mundo das perturbações mentais?

Tudo começou com uma mulher, a Mary, que conheceu um tipo na internet. Ele era supercharmoso e compreensivo e então apaixonaram-se e casaram-se. Ele disse- -lhe que trabalhava para a CIA. Estava fora seis meses e coisas assim. Então ela descobriu, depois de estar casada com ele oito anos, que ele não trabalhava para a CIA mas tinha outra família. Era um psicopata. Eu perguntei-lhe: ficaste magoada, chateada? E ela disse: “Não, não fiquei, porque ele é como se fosse um leão, a perseguir as suas vítimas na selva. Não levas a peito quando um leão te persegue.” Achei isto fantástico e depois conheci uma mulher que me disse que era mais provável encontrar psicopatas no topo do mundo empresarial do que na base.

Quando falamos em psicopatas, falamos de pessoas que mataram?

Nem todos os psicopatas matam. O psicólogo Robert Hare diz que eles são sempre malévolos, maus. A maior parte dos psicopatas não te mataria mas se te casares com um o mais provável é enganarem-te, e se for teu patrão vai-te lixar. São sempre malévolos.

No livro, uma das personagens principais é Tony, um homem que fingiu estar louco para fugir da prisão e foi parar a uma espécie de manicómio. Continua a ter contacto com ele?

Não, o Tony já está cá fora, mandou-me uma mensagem no outro dia. Já saiu há algum tempo e não aconteceu nada de mau. Queria encontrar-se comigo e pagar-me um copo e eu não fui. Tenho a certeza que ele é um psicopata. Fico feliz porque ele saiu da prisão, mas um encontro num pub, no campo, irias? Pior seria se o tivesse deixado zangado. Acho que assim alcancei o equilíbrio. Ele está feliz com o que escrevi sobre ele, acho. De certeza que houve pessoas que não gostaram tanto.

Como por exemplo...?

Tenho a certeza que o Toto Constant não ficou feliz. O ex-líder de uma esquadrão da morte não é das melhores pessoas para irritar. Não ouvi nada dele, mas acho que deve estar aborrecido, só que está a cumprir uma pena de 37 anos. Não me lembro se pus no livro este momento em que fico em pânico e acho que o Toto me vai matar. Depois lembro-me que ele está na prisão e não tem mais ninguém neste mundo e fico aliviado.

Quanto aos empresários que contactou, inclusive Al Dunlap [norte-americano apelidado “Al Motoserra”], qual era a sua abordagem? Não podia falar logo da psicopatia…

A muitas pessoas perguntei: “Posso visitá-lo para ver se é psicopata?” E disseram--me que não. Com o Dunlap disse no email: “Estou convencido que tem uma anomalia muito especial no cérebro” e mostrei interesse no espírito predador. Isto fui eu a adoptar um comportamento psicopático para conseguir o que queria. É o que fazemos enquanto jornalistas.

Há alguma situação ou pessoa em especial que recorde desta aventura?

Há aquele momento em que o Toto diz: “Eu quero que as pessoas gostem de mim.” E eu perguntei se isso não era uma fraqueza, ao que ele respondeu: “Não. Se conseguires que as pessoas gostem de ti podes levá-las a fazer tudo o que quiseres.” Foi um momento de pura psicopatia. Isso tocou-me, foi impressionante.

Depois de escrever “O Teste do Psicopata” e de estar submerso neste mundo durante quase dois anos, continua a ver psicopatas por todo o lado?

Sim. Tenho quase a certeza que Newt Gingrich, que está pelo Partido Republicano, é um psicopata. Quando a mulher dele teve cancro ele trocou-a por outra. Depois esta outra teve esclerose múltipla e ele também a deixou. É um homem horrível, sem qualquer tipo de empatia. Mas ao mesmo tempo sei que detectar psicopatas em todo o lado pode ser um pouco tirânico, porque é fácil demonizar as pessoas.

Sendo uma pessoa tão ansiosa, porque se expõe a este tipo de situações?

Toda a minha vida se baseia em encontrar boas histórias. É o que me dá dinheiro, é a minha carreira e também emocionalmente é como me sinto bem. E acontece que as únicas histórias que conto são aquelas de que faço parte porque não sou bom a inventar coisas. Tenho de participar nas aventuras e é nessas situações que estão as melhores histórias. Agora só me sinto nervoso de pensar se alguma vez escreverei algo tão bom.

Mas é um nervosismo que transparece?

Quando fui ao “Daily Show”, com o John Stewart, a certa altura estava tão nervoso que parti o sapato. O sapato explodiu no “Daily Show”. Não sei até que ponto é óbvio, simplesmente inclinei-me para baixo puxei o sapato e rasguei-o.

Tem uma vida muito emocionante.

Quer dizer, por cada semana em que estou a viver aventuras estou três meses em casa a escrever sobre elas. A maior parte do tempo estou sentado num quarto em casa a escrever. Gosto mais desta parte, prefiro-a mil vezes.

Como encontra as histórias?

É completamente orgânico. Esbarro com as coisas e funcionam, começa a viagem. Desde que mantenhas os olhos abertos, flui. Estou a trabalhar no meu novo livro há cerca de um ano e nem te sei dizer sobre que é que é.

Foi o que aconteceu com as “Os Homens Que Matam as Cabras só com o Olhar”?

Foi uma grande sorte. Um psicólogo que tinha estado envolvido com a CIA disse- -me: “Ouvi a história de um tipo, general, que pensava que podia fazer explodir as nuvens só de apontar para elas. E de outro tipo que estava a treinar militares para só comerem nozes por um mês.” E depois descobri estes soldados e a história de- senvolveu-se. A falar com pessoas encontras mais coisas que na internet.

E estes militares, que entre outras coisas achavam que conseguiam matar cabras com o olhar, não se importavam com a sua presença?

Um deles estava convencido que eu era da Al-Qaeda e a razão pela qual eu estava a fazer todas estas perguntas era querer aprender a matar cabras só com o olhar. Estavam um tanto ou quanto desconfiados. Só começaram a gostar de mim quando o George Clooney entrou em cena, tipo cinco anos mais tarde. Odiavam-me e não tinham gostado do livro porque fazia pouco deles. E de repente o Clooney entrou nas vidas deles e tudo ficou perdoado. Agora adoram-me.

Ser jornalista e contar histórias foi um desejo de miúdo?

Nem por isso. Sempre pensei que ser jornalista era estar sozinho num quarto, a escrever com uma nuvem de fumo. Parecia bastante deprimente. Isso é a minha vida hoje, só que já não fumo. Mas não era um sonho. A melhor coisa de ser jornalista, mas isso tu já sabes, é ter aventuras, conhecer pessoas, ir a sítios a que normalmente não irias, é como teres mil e uma vidas diferentes. Isso é óptimo, embora as viagens sejam stressantes.

Mas também já esteve noutros meios, música, televisão, entretenimento...

Sim. Agora estou a escrever um filme sobre estar numa banda, que vai ser filmado este ano. É uma história verdadeira baseada na minha experiência quando era mais novo. Sinto um pouco falta, embora adore o que faço.

Das várias situações perigosas que enfrentou, qual foi a mais assustadora?

Uma delas aconteceu em Portugal. Havia uma reunião privada, com pessoas muito influentes, num hotel e eu tentei infiltrar-me e fui perseguido por um tipo com microfone pequeno e óculos escuros. Telefonei para a embaixada inglesa a dizer que estava a ser perseguido pelo Bilderberg Group e disseram-me que não sabiam o que podiam fazer por mim. Ainda assim, acho que “O Teste do Psicopata” é a minha maior aventura e o meu melhor livro.

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